terça-feira, 23 de setembro de 2008

Feira livre

Existe uma necessidade de nos voltarmos para a compreensão das implicações das formas e imagens constituídas pelas feiras livres em Feira de Santana e a riqueza intrínseca presente, tanto nas memórias da população dos feirantes-comerciantes que constroem a feira, como da população freguesa que a compõe e dá vida ao comércio, e que o faz num movimento de compra e venda febril dos produtos oferecidos. Entendemos este como um estudo vinculado à memória e paisagens das feiras livres no centro da cidade de Feira de Santana.
Aqui se pretende compreendê-las na segunda metade da década de 1970, quando a feira constituía-se na Avenida Getúlio Vargas (com área de concentração maior nas proximidades da Avenida Senhor dos Passos, e ruas Marechal Deodoro e Sales Barbosa), até, num outro momento, os dias atuais, quando as feiras se desconstroem com a mesma facilidade com que foram construídas, por todo o centro da cidade. São ruas, becos e avenidas, portas de lojas, de agencias bancárias e praças, todos estes espaços tomados por barracas, tendas, esteiras, (até capôs de carros!) onde se organizam e re-organizam em movimentos constantes (que convém entendermos como a dinâmica da História)! Toda a feira que traz consigo um diversificado número de produtos e de memórias.
Encontram-se num mesmo espaço, constituindo uma mesma forma ou imagem, pessoas que vivem do comércio ambulante e que não se limitam a percorrer ruas e becos e tantos outros espaços de memórias; não apenas por opções de melhores negócios, mas muitas vezes por imposições de decisões políticas, de interesses específicos que modificaram outro desenho da feira ao longo da Avenida Getúlio Vargas. Mas decisões que não conseguiram impedir, e isto também nos interessa, as tantas outras construções de feiras, que variaram, desde a forma de um carrinho de mão com cestos ou não sobre eles, até a ocupação de calçadas inteiras das ruas, oferecendo, para além de produtos agrícolas como tomates, alfaces, coentros, batatas e beijus - realçando a visão multicolorida da feira - facas, espelhos, mata ratos, pastas milagrosas e ervas medicinais, tensões sociais, memórias, imagens, história.
A necessidade de incluir um estudo sobre a imagem e memória, diante da dinâmica da construção da (s) feira (s) livre (s) de Feira de Santana, suas relações com o espaço do centro da cidade, com a cultura e com o cotidiano nos remete a esta produção.
Partimos da constatação presente em boa parte dos estudos sobre a história da cidade: ela nasce de uma fazenda – um espaço rural – que vai se moldando povoado, depois vila, até alcançar a condição de espaço urbano mais definido, a cidade de 1873.
Tudo isso graças ao desenvolvimento comercial – as feiras de gado e a feira livre - que insiste em tê-la por perto, ou, mais que isso, que possibilitou esta transformação de fazenda em cidade.
Feira de Santana, segunda maior cidade do estado da Bahia, está situada numa zona de planície, entre Recôncavo e os tabuleiros do semi-árido nordestino. Atualmente ocupa uma área de 1.338,1 km, distante 108 km da capital, Salvador. Conta com um número expressivo de estabelecimentos comerciais, que oferecem desde produtos alimentícios, até artigos importados. O freguês (sim, o freguês – a cidade parece ser uma feira constituída!) pode facilmente encontrar farinha, feijão, aipim, tecidos, bijuterias, jóias, couro, selas e outros utensílios de montaria. Tantos produtos que um dia se encontraram misturados a aquele que pesquisadores da história local consideram o mais valoroso para o povoado, vila e cidade: o gado. Que se não chegou a tanto com se supõe, contribuiu decisivamente tanto para a imagem que vai se construir no espaço ocupado pela feira, como para a identificação da população com a figura do vaqueiro e de todo o estilo de vida que se constrói e por ele é construído: terra, gado, mata, esterco, música sanfonada, cantorias, cuscuz, aboios, ensopados e literatura de cordel. E olha que não registramos aqui nem uma décima parte da variedade dos artigos e do colorido que estão presentes numa feira – digo no comércio de Feira de Santana - com estas informações passadas.
Até onde vai o eterno armar-se da feira pela vida da cidade?

2 comentários:

Roberta da Purificação disse...

Professor!
Você precisa escrever mais sobre a história da cidade, Feira precisa desse resgate!
Tenho muita vontade de conhecer a Feira do Rato, pois é um universo fora-da-lei, que sobrevive não-sei-como.
A propósito, estou lendo um livro que talvez você conheça, chamado Mitos, Emblemas e Sinais. É de Carlo Ginzburg, um historiador. Ele fala justamente de métodos de investigação. É interessante!
abraços!
Roberta

Dau disse...

Augusto,

Você sabe que adoro a proposta do Museu da Família. Realemente é muito boa... Principalmente pelo fato de ser uma forma de despertar nos alunos da 5ª série o gosto pela disciplina e ao mesmo tempo deixar claro que eles e suas famílias são sujeitos da História.

Prossiga com esta proposta e procure envolver mais os pais e familiares dos alunos, pois estes podem trazer grandes contribuições com suas memórias, durante o funcionamento do Museu.

Shalom!