quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Manga amarela

A manga
             amarela
estava deliciosa
cada fio
           de ouro
                     cada tanto
de sumo
            que chegava a
                               minha boca
hummmm
               pensei
                       em ter
uma
        manga amarela
                             por uma
                                           noite
uma manhã
                  uma tarde
                                por toda a vida...
Ah! quem sabe?

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A vida

Desesperadamente
saudosa
Envolvente
Doce e
Amarga...
Ora,
De quem falo?
Da vida!

"De hoje a oito"

Não costumo
seguir
regras
quando falamos
do destino
Não planejo
não marco
convicto
para
de hoje
a oito
A História
não é o futuro...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Chuvas de Novembro

Surpreendido
pela chuva
O povo
se lançou
em
rezas
louvores de
agradecimentos
para uns
temeridades
para tantos outros
No escritório
da firma
bem ao
longe
pensamentos
desalinhavam
fios de
uma vida
o filme
registrava
a vivência dos fatos
enquanto
a memória
em luzes
capturava
imagens
sons
cheiros
até sonhos...

Casa própria

Comprou
A
Casa dos
Sonhos
E...
Morreu!
Minha casa
Minha vida.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Noites

Fugi!
Saltei na
Neblina
Da
Madrugada
Esperando
Ganhar
O mundo,
Ganhar
A rua.
Estivera
Detido
Pelo crime
De
Lesa majestade:
Abandonei
Dias de sol
Por noites
Prateadas
De lua,
No Timbau.
Deixara o
Labor cotidiano
Por cervejas,
Amargas cervejas,
Loiras, Ruivas, Pretas...
Bebidas de
Um
gole só,
Após desencontros
Em mesas de bar,
Rodas de conversas
Desnorteadas,
Vadias filosofias,
Indagações cosmogônicas,
Inquietantes,
Boemias de pensamentos tortuosos,
Bando de Lucas da Feira,
Encantados por divinas flores e
Fadas...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ferro de Engomar

Preciso
Conseguir informar
Que
Não sou somente
Rua ou
Beco
Talvez
Esquina
Torta sem sinaleira
Que nem a do Ferro de Engomar
Entre Senhor dos Passos
e
Senador

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cotidiano

Acordei com uma vontade
De falar
Escrever
Poesia
Palavras libertas
Libertadoras
De almas e
De tristezas
Poesias de
Melancolias
De gente que vive
Cabisbaixo
Embaixo
Da ponte
Ao lado do luxo
E
Sobre
O lixo
Gente que mete
Medo
Às nossas consciências
Gente só...
Que vontade de
Escrever para quem vive
Ao meu lado
Ao seu lado
Capacho nosso
Miséria nossa
Andanças nossas
Gostaria de escrever
Para os pés descalços
Pés no chão
Que aponta o dedo
Para os nossos rostos
E pergunta por uma moeda
Pão de cada dia
Cachaça de cada almoço
Passagem de cada destino
Quanta vontade de poder
Dizer
Para as meninas de
Olhos puxados
Para os meninos
De camisas
Rasgadas
Para as meninas
Que puxam fios
De cabelos
A vida não nos faz
Sozinhos
Sozinhos
Nos tornamos
(Ou não...)
A Spínola

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Art e Foia

Tentei,
Em cada entrada do
Beco do Colégio,
Lá no Art e Foia,
Desvendar os mistérios do som
Das algazarras,
A tardes-noites
Regadas
A cerveja...
No pátio do Colégio,
Antigo Santanópolis,
Debaixo das sombras,
Das aulas de gude,
De pião,
Por entre bancos de jogos de tampinhas,
Me via na fila da cantina
Esperando, gritando, brigando com
Marquinhos, Marcelinhos, Vans eoutros colegas...
Me via no olhar das colegas-meninas feirenses-parisienses:
Annes, Addas, Cristianes, Ludmilas, Francineides...
Desfilando na altura da quadra, do pátio,
Pertinho do gol...
Até que Torres (Tonhão?) soprou o apito
Apontando para o meio. Ganhamos!
Acordei no banco do bar, quase madrugada
Ainda a tempo de ouvir
Acordes de
Paulo Monge
Júlio Figueiredo
E Carlinhos Somatória

A Spínola

sábado, 24 de setembro de 2011

Suspiro

De perto
Parecia
O som de uma sanfona
Era meu Suspiro
Numa Reação
À passagem da cabocla
De azul e branco
E um rebolado...
Hummmm...
À noite
Enquanto labaredas da fogueira
Tentavam em vão
Competir
Com a escuridão do
Céu
De Lua Nova
Eu competia
Com cabelos de
Ébanos
Tentava pegá-los
Enquanto fugiam
Escorregado por meus dedos
Se conseguisse
Prendê-los
Por segundos
Conseguiria um beijo
Lambuzado
Delicioso...
A Spínola

domingo, 4 de setembro de 2011

Sete vezes pela mesma rua

Sete vezes
Pela mesma rua
Passeios diferentes
Casas diferentes
Lojas diferentes
Até o trio nordestino mudou
Restava fazendo show
Para atrair a multidão que passava
Uma dupla sertaneja
Sete vezes
Pela mesma rua
Calçada
Como não fora antes
Pintada
Como não fora antes
Cheia de novas barracas
Agora boxes
Como nunca existira antes
Sete vezes
Pela mesma rua
Os homens já não usam
Mais chapéus
As mulheres já não andam
Mais de vestidos
Parecem de tribos
Diferentes
Sete vezes
Pela mesma rua
Policiada
Cheia de câmeras
Espalhadas
Pelos seus quatro cantos
E um meio
Sete vezes
Pela mesma rua
Enfeitada para sua enésima feira
Que caía numa segunda-feira
Vitrines novas
E uma coleção novinha
No sex shop
Sete vezes
Pela mesma rua
Até chegar ao cinema
Pertinho do ponto de ônibus
E do hotel que um dia foi grande
Sete vezes
Pela mesma rua
Aqui em Feira
Não falamos Comércio
Não falamos
Centro
Falamos rua
Quem não vai
Para a rua
Amanhã
Segunda-feira?
A Spínola

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Viagem de ônibus

Pálido
Descia as escadas
Da rodoviária
Havia passado
Pelo
Painel de
Lenio
E um amargo secou
Ainda mais a
Sua boca
Enquanto esperava
O Gontijo
Das 23:15h
Pensou
Antes de ir para
O Crato
Um gole
De cachaça
Para
Sonhar...
Tomara que
O ônibus
Não seja
Tomado por
Assalto
Onde roubam
Inclusive sonhos...
A Spínola

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Para inglês denunciar

Em Feira
Faliu a construtora
o banco
a banca do jogo do
bicho
No Rio
dez por cento
abaixo da linha
da pobreza
Miserabilidade
Enquanto isso
Lá em São Paulo
O governo
banca
com nosso dinheiro
A construção de
um estádio
para o Corinthians
Para inglês ver
E denunciar...
Augusto Spínola

sábado, 16 de julho de 2011

Assalto

Julho de
2011
Menos chuva
Mais violência
Era 12:30h
Quando
A bala foi
Disparada
De nada
Adiantou
A blusa discreta
De frio
O peito
Foi atingido
O corpo
Caiu
Ao chão
Misturou-se
Ao cinza
E frio
Piso da loja
Ao vermelho
E quente
Sangue
De passarinho
A alma também
Deve ter
Voado
Para os céus
Dos pássaros livres
Dos seres
Que vivem
E
Deixam viver
Que
Tecem
E se deixa
tecer
Por destino
Enquanto
O bando
Do pássaro morto
Engole
Nós
Que parecem
Se prender
Na garganta
Nós...
Destinos...
Sina...
Tudo porque
A polícia
Não sabia
Que o crime
Ia acontecer ali
Só comerciantes
Que instalaram
Câmeras
À espera
de um novo
Assalto
A. Spínola

terça-feira, 12 de julho de 2011

Intervalo da escola

17h40min. A sirene anunciava o fim da aula daquela tarde quente de outubro. O barulho dos estudantes – gargalhadas, pastas que caíam, gritos – contrastavam com o seu ritual silencioso: delicadamente ela recolhia livros e cadernos, guardava lápis e canetas e fechava o zíper da sua mochila. Flutuava em direção à porta da sala e se dirigia ao portão de saída. Era sempre acompanhada por duas, três, quatro amigas que moravam por perto. Andava meio calada ultimamente. Talvez triste, talvez cansada... Franzia a testa e esticava a sobrancelha olhando constantemente para o chão (O que procurava?). Sempre que passava das três, na hora do intervalo, ela conseguia afastar-se das colegas e refugiar-se na sua cadeira, que ficava quase ao fundo da sala. Iniciava um ritual de olhar para suas mãos, para o caderno aberto numa eterna folha em branco e... para o chão. Raramente desgrudava os olhos dali. Na época parecia possuir cerca de dezesseis anos (talvez dezessete). Era morena, longos cabelos escuros encaracolados, alta, lábios finos, olhar reflexivo, atenciosa, meiga, inteligente... Não sei o que aconteceu quando me deparei com ela pela primeira vez. Havia saído do sertão da Bahia, Norte-Nordeste do Estado, divisa com Sergipe e Alagoas. Não reparava mais do que carcarás quando voavam, araras-azuis quando gritavam passando em bando, ou cabras leiteiras que precisava apartar para o outro dia. Mas reparei que a menina ficou inquieta, só não percebi até quanto naquele momento. Reparei que desviou o olhar, mas não sabia julgar que importunara. Sei que aquela calça azul e aquela blusa branca que ela usava, parecia ser a farda de colégio mais bem feita que alguém poderia usar. Sua cintura era esculpida, sua bunda era ligeiramente arrebitada e num tamanho perfeito. E os seios ficavam “de prontidão”, sempre durinhos, bico enrijecido... Uma criatura, um demônio para nossos olhos masculinos. Passei a notar que ela modificava seu comportamento quando eu estava por perto. Ora agressiva – pelas respostas que dava - ora complacente – pela cara que fazia quando, à sós comigo, puxava algum tipo de conversa. Nunca vira algo parecido lá pelas bandas. Mundo, mundo... O que acontecia com aquela menina?
Certa feita decidi caminhar na direção da sala de aula para encontrar olhares, encontrar pensamentos perdidos. Ela estava lá. Mesma fila, mesma cadeira, mesma roupa, mesma folha em branco... Mesma inquietação quando me aproximei. Segui firme naquela direção. Senti que estava acuada, amedrontada pela minha aproximação. Mas não pensei em mudar de direção. Firme, sentei-me de frente e pus a minha mão direita sobre a sua. Fingi recolher a caneta e passei a escrever naquela folha em branco. Iniciei com dizeres sobre seu olhar, sua boca, seu rosto. Passei para nossos olhares, nossas conversas, nossas inquietações. Cheguei com o texto naquela minha presença tão próximo a ela... Cheguei ao carinho na sua mão, nos dedos em seus longos cabelos escuros... Sabia que ela acompanhava o texto produzido. Mas o toque da sirene indicando o fim do intervalo nos interrompeu. Meninas do bando que andava com ela surgiram gritando ininterruptamente. Pareciam araras. Meninos suado do baba, entravam aos berros, gritando por jogadas que nunca aconteceram e interrogando-me por não ter ido até a sala do lado, onde ocorrera a disputa. O que havia acontecido comigo? Em meio à confusão de palavras, ao choque, levantei-me pra buscar a minha carteira. Tudo isso sem desviar o olhar nem o pensamento daquele intervalo. Esperaria o outro dia de aula e seu intervalo, e faltaria mais uma vez ao baba na sala do lado. Dedicaria-me a outra atividade de agora por diante: a escritura. Onde achava que ia chegar?
A. Spínola

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vã filosofia

Encostada
na
parede
passava a mão
pelo
cabelo
como se quizesse
medi-lo
Os fios
eram
puxados
tanto quanto
uma dúzia
de pensamentos
A. Spínola

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A moça da Matriz

...Teve o dia em que a filha do fazendeiro saiu em disparada para a casa. Havia conhecido o palhaço do circo que a cortejou de imediato, lançando-lhe de cima daquelas pernas de pau, uma rosa vermelha que caiu bem ao alcance das suas mãos. Trêmula, ela pegou a flor magnífica que por tanto tempo simbolizava o silêncio. Daí o olhar que se encontrara e a fuga em disparada na direção da sua casa.
Chegou ofegante, entrando pela cozinha. Queria fugir dos olhares (incômodos) da mãe, e das perguntas (irritantes) do pai. Passou que nem um raio, desviando das panelas, mas não conseguiu se desvencilhar do olhar perceptivo da cozinheira. Esta era uma mulher de pouco mais de cinqüenta anos. Quarenta e nove ali. Participara do parto da filha do fazendeiro e, em muitos momentos, participara das suas vivências infantis, das suas rebeldias de adolescente, e desconfiara que estivesse participando de um novo momento da vida da menina, quando ela corava quando se falava de namoro, ou quando se aproximava daquele ambiente, a cozinha, quando o rádio disparava a tocar músicas apaixonantes. Fingia comer uma fruta – goiaba que ela adorava – que só terminava quando a música também se encerrava. Naquele dia em que ela passou voando pela cozinha, Ela notou seu rosto rubro e a rosa em suas mãos. Guardou para si. Voltou-se ao fogão onde preparava uma suculenta feijoada, que seria acompanhada por arroz branco, salada de tomate e farinha.
No seu quarto, protegida por paredes, almofadas, música e um belo cachorro, a filha do fazendeiro envolvia-se em atordoantes, confusos e picantes pensamentos. Quem seria aquele homem mascarado pela pintura, que lhe lançara aquela rosa e um olhar tão penetrante? Lembrava dos seus dez, onze, doze anos... Constantemente era levada aos circos que se armavam naquelas bandas. Adorava os números de mágica e sorria até quase não se agüentar, com as trapalhadas dos palhaços. Sentia falta dos circos, que há quase seis anos não conseguia chegar ali. A seca prolongada que se alastrara um dia, deu lugar a um intenso período de chuvas, que não permitia que nenhum carro conseguisse passar por aquelas estradas, entrecortadas que eram por riachos, beiradas de tanques e açudes, que sangravam intensamente como se dizia por lá. O caminho virava uma pasta e ninguém ousava passar, a não ser a pé, ou a cavalo. Agora, seis anos depois das secas e das chuvas, chegara um caminhão, nos rastros dos carros de bois e de produtos agrícolas que compunham a feira livre.
Como eles sempre faziam depois que subiam a lona, saiam no final da tarde para divulgar o espetáculo. Entoavam músicas engraçadas, enquanto batiam insistentemente os pratos que carregavam. Ela saíra de casa para ver algumas amigas na Rua Direita e passar no armarinho, onde compraria água da flor que cheira e dois pacotes de misses. Na saída da loja deparara-se com o cortejo: palhaços e malabarista que usavam cantigas para chamar o público para o espetáculo que marcaria a abertura da temporada – assim eles diziam – ali, naquelas bandas. Um monte de meninos gritava endoidecidos acompanhando os artistas. Na saída, encontrou-se com este grupo e deu-se o momento mágico. Aquele palhaço com losângulos vermelhos nos olhos e uma pintura branca na boca, lançara-lhe a rosa vermelha e acendera com o gesto, seu desejo por homens enigmáticos. Controlara a situação, fora verdade, mas até o momento em que estava para dobrar a esquina da Rua de Aurora, onde ficava a sua casa. Aí deu-se a disparada.
No seu quarto seus pensamentos iam longe. Imaginava a chegada daquele homem, batendo sorrateiramente na sua janela. Ele havia tirado a pintura da boca, mas não a dos olhos. Continuavam lá aqueles dois losângulos vermelhos que marcavam o enigmático sujeito. Ela fechara os olhos enquanto ele a puxara ao seu encontro. Estava apenas com uma lingerie. Um suspiro longo e o toque das mãos fizeram com que ela tremesse e reagisse favoravelmente a um longo e lambuzado beijo. Estava vivendo a sua fantasia. Um homem misterioso invadia a sua casa, avançava pela janela e ela não conseguia sair do transe de desejo em que se encontrava. Por um breve momento pensou nos pais. A mãe com sua voz de veludo, pacientemente lhe dava conselhos. Quantas vezes não dormira assim? E o pai, de voz grave e postura brava, que se escondia entre o personagem de marido fiel e pai dedicado, mas que ela já havia visto no leito do rio, abraçando a filha da vizinha morena, fazendo-lhe carícias nas coxas, abrindo seu vestido, enquanto roupas iam sendo levadas pela correnteza do rio. Lembrava que sentira raiva, inveja, decepção... Tudo ao mesmo tempo! Sonhara outras vezes com esta cena, mas era ela no lugar da filha da vizinha morena e era um homem mascarado a acariciar-lhe as coxas, bunda, seios... A partir-lhe os lábios enquanto beijava-lhe e sussurrava ser aquele beijo, aquela boca, semelhante manga, lambuzada, doce, desejada... Agora diante do palhaço que entrava pela janela, tinha a sensação de que aquele era o seu destino.
Aos dezessete anos ela temeu pela primeira vez um homem enquanto tal. Conhecera-o numa festa da Matriz, em Janeiro, quando todos os olhares se dirigiam, ou para as carroças enfeitadas e barracas dos arredores, ou para a Igreja e sua multidão de gente que insistia tanto em rezar. Ela largara-se dos pais lá dentro da Igreja e viera observar a parte profana da festa. Ao passar das carroças, uma multidão se aproximara de onde ela estava para vero cortejo passar e formara um cordão inviolável, que não a deixava passar. Estava ela ali, presa, a ter que ver todo aquele cortejo, sem poder desprender-se sentindo aqueles corpos tão próximos a ela. Um sujeito, talvez da sua idade, se aproximara tanto dela, que podia senti-lo pulsar. Se assustou tanto quanto gostou daquela situação. Não podia sair, para não forçar e cair na rua, onde passava o cortejo de carroças, não queria sair, pois sabia que ninguém os via, ninguém – diante daqueles gritos e xingamentos e talcos jogados – percebia que ela estava forçando-se para trás, enquanto ele grudava as mãos na sua cintura,ameaçando algumas vezes, deslizá-las até outros lugares. Mais uma vez vermelha e ciente da situação que vivia, largou-se num repente para além da barraca. O sino anunciava o final da missa e ela precisava encontrar-se com seus pais na saída da Igreja. Suas mãos suavam enquanto se desprendia do rapaz que, trêmulo também, pedia-lhe para revê-la. Não podia escutar nada. Não devia também. Disparou pelo corredor em direção à Igreja da Matriz. Chegou a tempo de esperar seus pais saírem. Com eles fizera o caminho de retorno à fazenda, sem deixar de pensar na cena por um só momento. Carregava aquele rapaz nos balões de pensamentos e, em casa, ao banhar-se, enquanto acariciava-se, tentava escondê-lo, tirá-lo de perto de si, dos seus sonhos sem conseguir. Ali ela se entregava e chegava a gritos e soluços incompreensíveis. Quando voltava à razão, passava a ter medo do rapaz.
Outras vezes fora surpreendida pela empregada cozinheira no banho. Ela chegara à porta para socorrê-la, acudi-la, como se falava por ali, depois de ouvir tais gritos. Acontecera algo, decerto! Não era nada. Ela estava envolvida em outros destes pensamentos e, enquanto banhava-se, perdia a noção de tempo, de espaço... Perdia o rumo da história da casa e tomada pela situação, soltava gritos e gemidos de prazer que, quando chegavam aos ouvidos da empregada cozinheira, pareciam ser soluços de tristeza (dizia ela), de choro, talvez algum acidente no banho...
Algumas (poucas) vezes ela fora ao cinema, acompanhada por amigas, mas voltando sempre para a casa com os pais. Saía da Senhor dos Passos, da altura do Cine Santanópolis, envoltas pelas cenas românticas e de aventuras dos filmes que lhe satisfariam profundamente. O filme que terminara de ver por várias vezes provocaria-lhe suspiros e sonhos. Nos sonhos estaria envolvida numa daquelas cenas, em situações amorosas, agarrada, sendo levada para uma doce viagem, regada a beijos molhados, banhos de mar, festas e noites de gemidos...

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia da poesia

Ah! As palavras...
Quem nunca caiu de língua,
tropeçando em palavras?

A. Spínola

domingo, 6 de março de 2011

Tempos modernos e de outros carnavais

Gostei tanto
                Um dia
De festas
           Como o carnaval
                                  E a micareta
Que me perdi no trio
                             Sem ouvi passar
O tempo
           Sem ouvir mudar o espaço
Sem me ouvir
                     Chamando a mim mesmo
A. Spínola

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Caminhada

Construí Caminhos
Pegando num batente de pedra e de terra
Fofa
Caminhei pisando esterco
Pisando espinhos
E cascas de melancia onde teimava escorregar
Caminhei por casas alheias
Soleiras de portas de madeira
Caminhei entre caminhos da roça
Entre corredores apertados
Por abraços de mandacarus
Percalços de xique-xiques e
Facheiros
Pousei
Que nem gavião
No meio do pasto
Perto do juá
Do lado da cerca apodrecida
Pela jornada da vida
Ah! Caminhar por estas bandas do sertão
Sem badogue
Sem peixeira nem canivete
Para um desatino... Viver o mundo...
Augusto Spínola

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Santanópolis - 2011

No portão de entrada
Um Renault
Na sala da quinta
Dois celtas e um courier
Na sala da sétima
Uma caminhonete
E um corsa – zerinho!
Na Cantina – Fox
Logus e uma ipanema
No pátio, corolas
Ducatos
Mercedes, apollos, clios
(Suspiro)
Nenhum pau-de-arara
Daqueles que enchiam a Feira
De gente
E de produtos

A. Spínola