Enquanto ouvia
Conselhos
Vendia a alma
Vendia verbo a preço de
Ouvidos
Vendia olhares
A preço de tempos perdidos...
A Spínola
Espaço para publicações/discussões sobre pensamentos e memórias...
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
Beleza pura
Se
Nunca disseram
O quanto
És linda
Não
Serei
eu
a dizer
Não
Digo
Não
Digo
Não
Digo
Augusto Spínola
Nunca disseram
O quanto
És linda
Não
Serei
eu
a dizer
Não
Digo
Não
Digo
Não
Digo
Augusto Spínola
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
"Vumbora, Cabras!" - Viagem de estudos a Paulo Afonso

Passava de meio-dia quando o bando passou a se preparar para bater em retirada. Iam sair da boca do sertão, caminhando pela caatinga adentro na direção da Cachoeira de Paulo Afonso. Uma jornada árdua, debaixo de um sol de mais de 30ºC.
Homens e mulheres do grupo ajeitavam seus bornais, tendo o cuidado de observar se os cantis estavam cheios. Precisariam de muita água, e o capitão não era lá muito chegada a parar em qualquer lugar para obter provisões. Mais fácil parar se alguém caísse de febre, ou se fosse para rever algum compadre - precisando de um coito para atender algum ferido. Não seria provável acontecer nenhuma das duas coisas desta vez, pois todos no bando demonstravam muita saúde, e a pressa para chegar à divisa de três estados – Bahia, Sergipe e Alagoas – um lugar seguro para qualquer sujeito que escolhesse viver vagando pelos campos do sertão nas margens do Rio São Francisco. O pensamento fazia o grupo apressar-se e começar uma marcha inesquecível.
Já era noite quando aqueles homens e mulheres errantes, que construíam suas histórias sobre o chão das caatingas e envoltos em sons de mugidos de bois e canto de bem-te-vis chegaram ao seu destino. Puseram-se a procurar artigos nos bornais e deitaram-se para descansar, não sem antes tomar a precaução de entender quem ficaria em cada canto, em cada direção, de olho na vida, no tempo que passava e que muitas vezes cobrava para que as pessoas pudessem vê-lo passar: Tirava a vida de companheiros, fazia companhia a sonhos e noites daqueles que insistiam em viver.
No outro dia bem cedinho, rumaram para a região de Xingó, lá na beira de Sergipe. Vigiaram tudo cuidadosamente. Discutiram onde acampariam para comer rapadura. Ainda debaixo do sol do meio-dia, entraram na gruta de Xingó onde encontravam pinturas feitas na pedra e esqueletos de outros homens que morreram por ali. A gruta lembrava uma escavação, um cuidadoso tabuleiro do jogo de damas, onde podia se enxergar pedras, pedaços de cerâmica, restos de carvão queimado e pontas de velhas lanças. Rumaram para Piranhas depois da rapadura, onde cumpriram obrigação como determinava o capitão: passaram pela igreja em romaria e cada qual fez seus pedidos, rezou suas preces. Algumas mulheres subiam as escadarias resmungando, mas com medo de serem ouvidas pelo capitão. Já pela tarde, antes do pôr-do-sol, estavam de volta a Cachoeira de Paulo Afonso onde passariam a noite.
Após um breve sono, homens e mulheres já se arrumavam para andar em reconhecimento pela beira do rio. Foi quase um dia buscando novos abrigos, novos conhecimentos que poderiam salvar a vida de alguém do grupo, ou favorecer um parto, ou ainda um arrasta pé sobre o lajedo. Pararam quase noite, quando perceberam a presença de um macaco que falava sobre uma revista ilustrada e sobre o Raso da Catarina, que o capitão e mais alguns homens que formavam o bando, pareciam conhecer bem. Daquela conversa veio o plano de rumarem para o Raso e marcarem esconderijos.
Conheceram na entrada do Raso a família de Lídia. A antiga componente do grupo fora morta pelo companheiro após traição e ninguém do grupo parecia querer tocar naquele assunto. Algumas mulheres deixaram as lágrimas correrem, mas engoliram em seco o acontecimento. Entraram no Raso e contactaram os pankararés. Receberam carne de bode, farinha e reza. Muitas rezas. Mas tiveram que sair apressados ao notarem a passagem do tempo. De volta a Paulo Afonso, recolheram os pertences que haviam deixado escondidos espalhados pelas pedras da cachoeira. Saíram apressados para não travarem fogo com as volantes que pareciam chegar perto. O capitão resmungou algo sobre a demora, e deixou sair algumas palavras que pareciam senha para uma nova partida: “Vumbora cabras!” E lá ia o grupo serpenteando a caatinga, na direção de outra bandas, de outras paragens... Vão-se cabras, a cada ano mais amadurecidos e cientes do que o destino lhes reservou...
Homens e mulheres do grupo ajeitavam seus bornais, tendo o cuidado de observar se os cantis estavam cheios. Precisariam de muita água, e o capitão não era lá muito chegada a parar em qualquer lugar para obter provisões. Mais fácil parar se alguém caísse de febre, ou se fosse para rever algum compadre - precisando de um coito para atender algum ferido. Não seria provável acontecer nenhuma das duas coisas desta vez, pois todos no bando demonstravam muita saúde, e a pressa para chegar à divisa de três estados – Bahia, Sergipe e Alagoas – um lugar seguro para qualquer sujeito que escolhesse viver vagando pelos campos do sertão nas margens do Rio São Francisco. O pensamento fazia o grupo apressar-se e começar uma marcha inesquecível.
Já era noite quando aqueles homens e mulheres errantes, que construíam suas histórias sobre o chão das caatingas e envoltos em sons de mugidos de bois e canto de bem-te-vis chegaram ao seu destino. Puseram-se a procurar artigos nos bornais e deitaram-se para descansar, não sem antes tomar a precaução de entender quem ficaria em cada canto, em cada direção, de olho na vida, no tempo que passava e que muitas vezes cobrava para que as pessoas pudessem vê-lo passar: Tirava a vida de companheiros, fazia companhia a sonhos e noites daqueles que insistiam em viver.
No outro dia bem cedinho, rumaram para a região de Xingó, lá na beira de Sergipe. Vigiaram tudo cuidadosamente. Discutiram onde acampariam para comer rapadura. Ainda debaixo do sol do meio-dia, entraram na gruta de Xingó onde encontravam pinturas feitas na pedra e esqueletos de outros homens que morreram por ali. A gruta lembrava uma escavação, um cuidadoso tabuleiro do jogo de damas, onde podia se enxergar pedras, pedaços de cerâmica, restos de carvão queimado e pontas de velhas lanças. Rumaram para Piranhas depois da rapadura, onde cumpriram obrigação como determinava o capitão: passaram pela igreja em romaria e cada qual fez seus pedidos, rezou suas preces. Algumas mulheres subiam as escadarias resmungando, mas com medo de serem ouvidas pelo capitão. Já pela tarde, antes do pôr-do-sol, estavam de volta a Cachoeira de Paulo Afonso onde passariam a noite.
Após um breve sono, homens e mulheres já se arrumavam para andar em reconhecimento pela beira do rio. Foi quase um dia buscando novos abrigos, novos conhecimentos que poderiam salvar a vida de alguém do grupo, ou favorecer um parto, ou ainda um arrasta pé sobre o lajedo. Pararam quase noite, quando perceberam a presença de um macaco que falava sobre uma revista ilustrada e sobre o Raso da Catarina, que o capitão e mais alguns homens que formavam o bando, pareciam conhecer bem. Daquela conversa veio o plano de rumarem para o Raso e marcarem esconderijos.
Conheceram na entrada do Raso a família de Lídia. A antiga componente do grupo fora morta pelo companheiro após traição e ninguém do grupo parecia querer tocar naquele assunto. Algumas mulheres deixaram as lágrimas correrem, mas engoliram em seco o acontecimento. Entraram no Raso e contactaram os pankararés. Receberam carne de bode, farinha e reza. Muitas rezas. Mas tiveram que sair apressados ao notarem a passagem do tempo. De volta a Paulo Afonso, recolheram os pertences que haviam deixado escondidos espalhados pelas pedras da cachoeira. Saíram apressados para não travarem fogo com as volantes que pareciam chegar perto. O capitão resmungou algo sobre a demora, e deixou sair algumas palavras que pareciam senha para uma nova partida: “Vumbora cabras!” E lá ia o grupo serpenteando a caatinga, na direção de outra bandas, de outras paragens... Vão-se cabras, a cada ano mais amadurecidos e cientes do que o destino lhes reservou...
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
No meio da mata o Bugio.
Sereno, admirando o céu cinza-azulado e raro daquelas bandas de caatinga. O cavalo faz uma referência esticando o pescoço para baixo. Deve ser um sinal de que o mundo vai desabar. Em breve, raios, trovões e muita chuva transformará a vida naquele sertão. O bugio continuará sereno, escondido entre as árvores...
(Foto feita em 2008, com uma Sansung 7.2 megapixels)
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Calçadão da Sales Barbosa
Como se vários
Rádios
Estivéssem
Sintonizadas
Num programa
de Vendas,
Vozes roucas
Saiam
Das portas de cada
barraca-loja
Da Sales Barbosa:
"É hoje, é hoje, é hoje
Tudo a dez!"
Até que chegava
A noite
E o calçadão
Morria
Deixando à mostra
Um monte de
Lonas
Amarradas.
A. Spínola
Rádios
Estivéssem
Sintonizadas
Num programa
de Vendas,
Vozes roucas
Saiam
Das portas de cada
barraca-loja
Da Sales Barbosa:
"É hoje, é hoje, é hoje
Tudo a dez!"
Até que chegava
A noite
E o calçadão
Morria
Deixando à mostra
Um monte de
Lonas
Amarradas.
A. Spínola
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Lua no Sábado de Aleluia
No sábado de aleluia, à noite, até a lua resolveu aparecer timidmente para ver os fogos da queima do Judas... Parecia Lua de festa junina, enfeitando o céu entrecortado de brilhos de foguetes estourados, de bombas e de canhões de estrelas... (Imagem produzida em 2008, a partir de uma Sansung, de 7.2 megapixels)
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